Quinta-feira, 16 de Dezembro de 2010
Era inicio do mês e o ordenado tinha tardado a chegar. O final do mês passado tinha sido particularmente difícil e já não havia muito a vender… Juntei os trocos e vi que dava para o comboio e o autocarro, mas no regresso só chegava para o comboio. Olhei para a tua Margarida e seguimos caminho.
O frio que se fazia sentir, era igual ao que se sentia dentro de nós. O comboio seguia o seu caminho, mas eu só queria que andasse mais depressa, não que isso fizesse diferença, mas estar lá fora, era estar mais perto de ti.
Chegamos e enquanto esperávamos o caminho das pessoas ao nosso redor ia apenas para o café. Nós não podíamos. O vazio do estômago marcava o compasso a que as pessoas se deslocavam, mas o dinheiro já contado não nos deixava pensar nisso sequer.
Perto da hora do autocarro, a minha mão encontra um papel amassado. Era um Euromilhões. A tua Margarida olhou para mim sem esperança alguma e eu respondi: É Natal… vamos ver. Saiu-nos o Euromilhões exclamei. Aqueles dez euros fariam toda a diferença! Hoje já não voltaríamos ao frio e a pé.
O autocarro chega e segue o seu caminho. Por muito sinuosa que a estrada fosse, o estômago não se atrapalhava pois estava vazio. Quando chegasse o ordenado logo se comeria como deve ser, mas sem nunca esquecer que te tinha prometido uma Seia como a que sempre tinha tido.
Chegamos e aquele largo enche-se de esperança. Atrás do grande portão verde está uma hora só tua! As pessoas cumprimentam-se e procuram aquecer-se, mas o silêncio continua a reinar entre nós. Basta um olhar para perceberes que chegou a hora. Demos a mão um ao outro e segumos em passo rápido, pois todos os segundo contam.
Lá dentro, o abraço que nos espera aquece-nos o coração e a alma. Demos as mãos como se fossemos um só e só as largamos uma hora depois. Durante uma hora, partilhamos o mundo e entregamos amor e sem sequer nos apercebermos... demos início ao melhor Natal das nossas vidas.